Boletim Inovação Aberta
Edição 26 - Julho de 2013
 

O Boletim Inovação Aberta é uma iniciativa do Wenovate - Open Innovation Center. Nesta publicação, pessoas envolvidas com a prática da inovação aberta no país são entrevistadas com o objetivo de registrar casos, discutir conceitos e propiciar oportunidades. O boletim também oferece informações sobre os principais cursos, eventos, artigos e lançamentos relacionados à inovação aberta.

UMA PARA TRÊS

Quais são os elementos-chave para liderar para a inovação?

 

Stefan Reich
Diretor do Centro de Liderazgo Adaptativo, Peru

“A inovação é resultado de uma combinação de determinado contexto, suas demandas e a capacidade de um grupo de indivíduos que percebe essa oportunidade e ousa experimentar. Nas organizações, os gestores buscam controle e segurança, que são necessários para as empresas. O líder no contexto da inovação é aquele que desafia esse equilíbrio e busca algo novo. Muitas vezes, os gerentes médios são entraves para a inovação, mas porque o sistema em que estão inseridos os força a isso, mesmo que queiram mudar. Por isso, os líderes para a inovação surgem justamente quando tentam romper o paradigma vigente. Isso vale também para questões sociais, como quando Nelson Mandela desafiou a lógica estabelecida na África. A liderança para inovação leva tempo, demanda muito esforço e tolerância.”

Juan Pedro Moreno Dias
Managing Director Global Banking da Accenture, Espanha

“Eu entendo que o que a move a inovação são as pessoas. É importante ter dinheiro, é importante o contexto, mas o que faz diferença são as pessoas que se comportam como agentes da inovação, que estão de fato interessadas em impulsionar uma organização. Um conceito interessante é o de innovation angel. Esses anjos podem ser empregados de qualquer área que imprimem dinâmica à empresa e a fazem se mover. Para essas pessoas trabalharem, a gestão precisa ser tolerante com falhas, pois é assim que se cria o novo. Mas apenas essa gestão não é suficiente se não se tem o perfil inovador na empresa e um processo de inovação muito bem estabelecido e descentralizado.”

Salvatore Iaconesi
Presidente da Art is Open Source, Itália

"A inovação pode ser entendida como um processo emergente: uma série de fatores, práticas e tecnologias que de alguma forma surgem e são adotadas pela sociedade. A liderança está conectada com a forma como determinados sujeitos reconhecem tendências e as performam. A liderança para a inovação está na habilidade de entender o entorno e criar sentido a partir dele, tentando criar possibilidades. Ela acontece de forma construída, a partir da habilidade de comunicação e motivação (até existem mentes geniais que geram algo completamente novo, mas são raras e irreplicáveis). As inovações de Steve Jobs não são resultado de uma mente genial, mas do fato de ele estar imerso em um network muito específico e composto por competências que se combinaram. Nesse ecossistema, Jobs foi um hacker que conseguiu capturar uma tendência importante, utilizou metodologias para extrair sentido e, com esses insights, agiu para colocar em prática.”

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ENTREVISTA

Mudar para não inovar?

 

Augusto de Franco, especialista e criador da Escola de Redes.

Se o seu conceito de rede social é Facebook, LinkedIn e Twitter, está na hora de repensar seus conceitos. Essas são mídias sociais, plataformas pelas quais as redes passam, mas não são exclusivas. Somos - e sempre fomos - partes de redes complexas de relações sociais que existem independentemente da tecnologia. A diferença é que, hoje, as redes parecem estar mais emaranhadas, cada vez mais distribuídas e interconectadas. Essa mudança afeta as organizações e a forma como elas inovam.

Para entender de que forma isso acontece, conversamos com o especialista Augusto de Franco. Criador da Escola de Redes, ele possui uma infinidade de livros publicados sobre o tema e tem trabalhado com grandes empresas. Para ele, a estrutura de corporação à qual ainda estamos acostumados (hierárquica, física e ordeira) é arbitrária: ignora as conexões espontâneas formadas entre as pessoas e tenta redesenhar as relações. Em nome de controle e organização, esse modelo tolhe a capacidade de inovar. Incisivo, o especialista ainda afirma que, muitas vezes, as organizações se esforçam justamente em impedir as grandes inovações.

Wenovate: Qual é o entendimento das empresas sobre redes sociais?

Augusto: As empresas não sabem o que é rede, confundem redes sociais com mídias sociais, acham que a rede é uma plataforma, não um padrão de organização. Acham que a rede é algo que se cria, não algo que já existe. Toda empresa é uma rede que está abaixo de um modelo autocrático que a sufoca. A gestão é uma obstrução de fluxo para capturá-lo e deixá-lo rodando ali dentro. Ela se baseia em comando e controle, ou seja: tenta condicionar esse fluxo.

Wenovate: O que acontece quando começam a questionar esse padrão?

Augusto: Muitas vezes, quando as empresas começam a pensar sobre redes, querem fazer mais do mesmo: mudar sem mudar.  Quando se descobre que existe um padrão mais distribuído, precisa-se mudar a configuração para uma direção descentralizada. O problema é que existem barreiras. E elas, normalmente, não estão na alta direção, mas na gerência média. A gerência média está preocupada em manter o funcionamento corrente, em ser promovida, em não perder o cargo que ocupa. Mudar uma estrutura engessada é ameaçar essas posições. Portanto, existem preocupações políticas que funcionam como anticorpos contra qualquer mudança, especialmente na transição de uma empresa hierárquica para uma empresa em rede. O mercado de consultoria funciona assim. Grande parte das consultorias não muda nada porque, quando dá certo e muda, é perigoso: a gerência se sente ameaçada, a área de TI não gosta, o RH acha difícil, o jurídico barra.

Wenovate: Como funciona uma empresa em rede?

Augusto: Uma empresa em rede é a vida normal, sem tantas proibições. Não é proibido usar o Facebook, o navegador que os funcionários usam não precisa ser só o Internet Explorer... Na prática, o que a gente vê é que o funcionário não pode acessar o Youtube, Dropbox, Google Drive. Tudo em nome de segurança, para não perder o controle do que se faz no mundo virtual. Para a empresa ser em rede, ela não pode trancar as pessoas obrigando-as a ir lá todos os dias. Claro que existem cargos na indústria em que o cara precisa estar fisicamente presente, mas não a empresa inteira. As empresas até hoje aprisionam os corpos, fazem o sujeito ir lá de manhã cedo e só sair de noite. E, quando está lá, aí a empresa coloca o sujeito em baias, que são bem menores que qualquer baia de cavalo, tolhendo a mobilidade. Não existem espaços livres para cocriar ideias, já que todos os espaços estão regulados.

Além disso, só o departamento de desenvolvimento cria. Está errado. O ambiente de inovação tem que ser a empresa inteira. Inovação é a capacidade instalada de se adaptar a mudanças. Isso envolve também os indicadores. Mostrar se houve aumento de faturamento com novos produtos não indica inovação. Inovação não é lucrar mais, mas viver mais, ser mais sustentável. O problema é que as empresas foram feitas para reproduzir e, agora, precisam criar.

Wenovate: O conceito de inovação aberta está fortemente ligado ao entendimento de rede...

Augusto: A rede, na verdade, é o ecossistema: steakholders internos e externos. A questão da inovação aberta é que ela só é aberta se for distribuída também. Não pode ter paredes sólidas que a separem, tem que ter membranas.

Wenovate: Qual o principal desafio que as empresas enfrentam para inovar nesse contexto?

Augusto: Mesmo crescendo, as empresas podem morrer, pois estão susceptíveis ao chamado risco sistêmico. O tempo de vida médio das corporações está caindo. Hoje, é de 15 anos, sendo que já foi de 75 anos. Isso por causa da interatividade. O número de caminhos e de maneiras de fazer as coisas se multiplicou, as pessoas têm várias alternativas. É por isso que não basta crescer em faturamento. Quando a empresa cresce, a produtividade também tende a cair e a inovatividade diminui. Esse é um risco sistêmico. Pegue o exemplo da Kodak, que foi ficando obsoleta, de repente deu um “cabum” e ficou inadequada.

Wenovate: É uma resistência à inovação disruptiva...

Augusto: A questão é que a empresa normalmente quer se proteger das mudanças, quando deveria se modificar na medida em que outras mudanças ocorrem. As operadoras de telefonia celular, por exemplo, são desnecessárias. Já há tecnologia para substituir o que está aí por um sistema muito mais barato. Mas, como sabem disso, as companhias tentam se aliar ao governo para proibir algumas mudanças, criar regras, impedir a inovação. Ou seja, mudam, mas para impedir a inovação. Esse caminho não tem nenhuma chance de sucesso.

Veja essas agitações no mundo no primeiro semestre de 2013. As empresas acham que não é com elas, que é só com os governos. Ficam procurando causa quando na verdade não tem causa. Esse é o metabolismo da sociedade. Na rede, qualquer estímulo, mesmo que originado na periferia do sistema, é capaz de provocar uma grande mudança. Em 2008, o risco sistêmico demorou uma semana para instalar completamente a crise do mercado financeiro com a Lehman Brothers.

Wenovate: Tem como se preparar para essas mudanças?

Augusto: Não tem como evitar a crise, mas quem estiver mais preparado para mudar tempestivamente consegue sobreviver às crises.

Wenovate: Existem exemplos de empresas organizadas dessa nova forma?

Augusto: Não existe um modelo ou um padrão quando se fala de rede. Cada rede é diferente, pois o emaranhado de relações é diferente. Todas as empresas são rede em alguma medida, mas não reconhecem isso. A rede é uma dinâmica de organização. Tem muitas tentativas de mudança. Tem gente que já opera há muito tempo assim. Tem uma empresa de software que não usa e-mail, por exemplo, só Facebook.

Wenovate: E funciona?

Augusto: Funciona. Eles usam um grupo fechado e todo mundo conversa ali. Tem empresa que tem sua própria plataforma, mas às vezes isso não funciona. É o mesmo motivo pelo qual a maioria das plataformas para inovação não funcionam. As pessoas simplesmente não entram nessas plataformas porque aquele não é o ambiente delas. Ninguém sai do lugar em que está para ir interagir em outro lugar. Uma empresa com a mentalidade de rede entende que as conexões já existem e que forçá-las a mudar de lugar não funciona. Se todo mundo está no Facebook, por que não fazer as interações por lá? Enquanto uma plataforma precisar que os gestores fiquem dando injeção nas pessoas para motivá-las a interagir, é sinal de que a rede ainda não existe.

Wenovate: Uma empresa já toda estruturada que queira migrar para rede consegue?

Augusto: Tem que fazer uma transição para reconfigurar tudo, desde o ambiente físico. Não adianta querer instalar um software para Windows em uma máquina da Apple.

Wenovate: Como acontece a inovação nesse cenário?

Augusto: A inovação é uma disposição. A rigor, gestão da inovação é um troço muito difícil. Quem cria é a inteligência coletiva. Dez Einstein não criam a Teoria da Relatividade. Ele estava conectado a outras pessoas e essa rede possibilitou que ele chegasse às conclusões que chegou. Por isso a inovação não vem apenas da ideia boa, mas de muitas ideias juntas, que, na combinação, criam um grupo criativo. Isso porque a inovação não sai do cérebro de um indivíduo, mas de um ambiente inovador, da interação, é a consequência da inteligência coletiva a partir de um arranjo. É por isso que faz tanto sentido quando empresas se organizam em clusters e vão crescendo em conjunto.

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SUÍTE

Cinco anos de CRI: a evolução das práticas de inovação aberta

Anderson Rossi - Fundação Dom Cabral

A experiência acumulada durante os últimos cinco anos na coordenação do Centro de Referência em Inovação da Fundação Dom Cabral, ou, simplesmente CRI, foi bastante enriquecedora e reveladora, por diversas razões. Primeiramente, pela oportunidade de poder colaborar com o crescimento das empresas participantes, no que diz respeito às práticas da gestão da inovação. Como a literatura aponta, a inovação é fruto do trabalho coletivo, e o convívio no Centro permitiu aos gestores das empresas avançarem no debate sobre as melhores práticas no tema. Merece destaque também a geração do conhecimento propiciada com o trabalho do grupo, fruto das pesquisas e experiências das empresas integrantes.

Por diversas vezes ao longo dos últimos anos, o tema inovação aberta ganhou destaque nas discussões. Nesse sentido, é interessante ressaltar que, em 2009, quando foi realizada a primeira pesquisa sobre as práticas de inovação aberta no grupo de empresas integrantes, a maioria dos respondentes, ou seja, quase 80%, declarou não ter nenhuma experiência e ou prática formal no tema. Os resultados da pesquisa também foram apresentados no seminário de inovação aberta promovido pelo Wenovate e chamou a atenção de todos os envolvidos, sobretudo, do professor Henry Chesbrough, que estava na plateia. Um bom debate foi criado em torno dos dados da pesquisa na tentativa de apontar caminhos alternativos para a adoção da prática de inovação aberta pelas empresas brasileiras. Àquela época, havia mais dúvidas e incertezas sobre o tema do que propriamente exemplos a serem apresentados.

No último mês de maio, data em que foi realizada nova pesquisa sobre as práticas do grupo em relação ao tema, os resultados surpreenderam a todos. A pesquisa mostrou que a inovação aberta já é uma realidade em mais da metade das empresas integrantes do CRI e com tendência a ampliar, na medida em que os novos desafios impostos pela competitividade obrigam as empresas a buscarem novas e melhores soluções além de suas fronteiras. Cabe destacar também a maturidade apresentada por algumas das empresas em relação ao tema, especialmente no que se refere às relações com os atores envolvidos no processo de inovação - universidades, clientes e centros de pesquisas. Outro dado interessante da pesquisa realizada é que a maioria das empresas que adotam práticas de inovação aberta priorizam as fases de desenvolvimento e pesquisa - e não a fase de ideação, como é enfatizado na literatura.

Assim, podemos afirmar que a inovação aberta, como preconizada pelo professor Chesbrough, já é uma realidade em um grupo considerável de empresas brasileiras. A via de mão dupla adotada na gestão da inovação aberta, ou seja, o fluxo de informações, conhecimento e tecnologia de dentro da empresa para o mercado e do mercado para dentro da empresa, é uma prática recorrente em muitos players, com tendência a ampliar.

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FOMENTO

(Des)alinhamento conceitual da Lei do Bem

Rafael Levy, Allagi

O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) realizou em Brasília, no dia 25 de junho, o evento “Contribuições dos incentivos fiscais da Lei do Bem para o aumento da competitividade por meio da P,D&I”. Poderia se tratar de um evento de rotina, que apresentasse pequenas novidades relativas à interpretação e à aplicação da legislação. Porém, causou surpresa a apresentação realizada pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, que gerencia a aplicação do incentivo fiscal. Intitulado “Alinhamento conceitual da Lei do Bem”, o documento apresentado aponta como atividade “não contemplada” pelo incentivo exatamente a mesma descrição que está na definição de “inovação” na legislação brasileira.

A apresentação do MCTI separa "Pesquisa e Desenvolvimento" e “atividades de engenharia” e interpreta como objeto beneficiado pelo mecanismo apenas a primeira categoria. Palavra por palavra, porém, o texto do ministério sobre “atividades de engenharia” repete a definição de “inovação tecnológica” que está na Lei do Bem (capítulo 3, artigo 17): “Concepção de novo produto ou processo de fabricação, e a agregação de novas funcionalidades ou características a produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando em maior competitividade no mercado” (VEJA TABELA ABAIXO).

Para entender o que significa esse contrassenso, vale resgatar a evolução da legislação brasileira para a inovação. Criada em 2005, a Lei 11.196, ou Lei do Bem, em seu terceiro capítulo ("Dos Incentivos à Inovação Tecnológica") afirma que se destina a incentivar atividades de: “pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica". Essa terminologia representou uma mudança em relação à legislação anterior (PDTI/PDTA), que falava apenas em "pesquisa e desenvolvimento tecnológico".

Apesar disso, em 2006, o poder executivo já havia entrado em campo com a publicação do Decreto 5.798, definindo "pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica" como: “pesquisa básica, aplicada e desenvolvimento experimental”. Era a primeira iniciativa para limitar a interpretação da lei.

A apresentação realizada no último mês reforçou essa movimentação restritiva da pasta. Os representantes do MCTI parecem querer considerar como inovação apenas o desenvolvimento tecnológico pré-competitivo - ou seja, a fase de pesquisa básica e aplicada ou o desenvolvimento de novas tecnologias realizado anteriormente à aplicação em produto ou processo.

O problema desse direcionamento por parte dos operadores do MCTI é que a definição da Lei do Bem, evidenciada pela mudança de terminologia em relação à lei anterior, deixa bem claro que o incentivo é para "desenvolvimento de inovação tecnológica". Portanto, inclui claramente o desenvolvimento de produtos e processos inovadores, e não apenas o desenvolvimento da tecnologia em fase anterior ao desenvolvimento do produto ou do processo.

Nos últimos anos, os atores envolvidos com a inovação no Brasil têm crescentemente concordado sobre a necessidade de direcionar mais recursos para a inovação em todas as suas etapas, dado o seu papel estratégico para a sustentação da economia no longo prazo. Isso porque a inovação consiste na introdução, no mercado, de novo produtos, serviços e processos que garantam a competitividade. A sociedade só se beneficia de ideias, invenções e avanços científicos e tecnológicos quando os mesmos passam a ser produzidos em escala e introduzidos no dia a dia. Ou seja, quando é feita a transição entre o conhecimento e o mercado.

Foi justamente para fortalecer essa conexão que surgiram os mecanismos específicos para a inovação, direcionando recursos de forma paralela e complementar àqueles já destinados à pesquisa científica. A interpretação de alguns membros do corpo técnico do MCTI, porém, parece contradizer esse consenso, valorizando apenas a criação, em um contraponto com a inovação de fato: o desenvolvimento e a viabilização para lançamento no mercado.

Realizadas de forma pouco clara pelo MCTI, mudanças na interpretação comprometem a efetividade da lei e demonstram uma postura passível de questionamento. Um exemplo é o Relatório Anual da Atualização dos Incentivos Fiscais - ano base 2011. O documento, que é publicado pelo MCTI para avaliar os investimentos em inovação, demonstra uma queda de 20% no volume de recursos destinados a pesquisa e desenvolvimento por meio da Lei do Bem, de R$ 1,72 bilhão no ano anterior para R$ 1,4 bilhão. Ao analisar a situação, porém, o órgão, eximindo-se de qualquer parcela de responsabilidade, cita a crise econômica mundial e o “abalo da confiança empresarial devido ao acúmulo de incertezas” para explicar tal redução, ignorando como fatores de desestímulo para as empresas as próprias políticas restritivas em relação à inovação.

O descompasso entre a aplicação da lei e a realidade das empresas brasileiras ainda é muito grande. Evidências disso são os dados de 2008 da Pesquisa de Inovação Tecnológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam que cerca de 30 mil empresas no Brasil investem em P&D para gerar inovação. Entretanto, números do MCTI revelam que as adesões aos benefícios fiscais da Lei do Bem não chegam a mil por ano.

O documento apresentado no dia 25 de junho, que exclui as atividades de engenharia do escopo contemplado pela Lei do Bem, traz ainda outro agravante que reforça a sensação de descompasso no MCTI. Segundo a apresentação, o objetivo da legislação é estimular as empresas a desenvolverem “internamente” atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica.

Essa ênfase colocada pelo MCTI é contrariada pelo próprio texto da legislação, que incentiva explicitamente atividades externas de P&D, inclusive oferecendo benefícios maiores para cooperações com ICTs. O artigo 17 da Lei do Bem destaca a possibilidade de uso da lei para dispêndios “com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica contratados no país com universidade, instituição de pesquisa ou inventor independente”. No mesmo texto, o artigo 19ª estipula sobre “projeto de pesquisa científica e tecnológica e de inovação tecnológica a ser executado por Instituição Científica e Tecnológica (ICT) [...] ou por entidades científicas e tecnológicas privadas, sem fins lucrativos”.

Todos esses argumentos levam à conclusão de que existe desalinhamento conceitual na postura do MCTI, que insiste em reforçar paradigmas obsoletos da gestão da inovação. A legislação é ampla e a interpretação passível de discussões, mas a tendência do ministério de impor regras para a forma pela qual as empresas devem inovar ignora a abrangência e a complexidade do processo de inovação, que ocorre de diferentes maneiras, de forma mais fechada ou mais aberta, e só tem sucesso quando completa o percurso até o mercado. Na tentativa de controlar e direcionar a inovação das empresas, o MCTI acaba contradizendo a legislação que o deveria guiar. Poderíamos esperar restrições por parte da Receita Federal, órgão cujo papel é tolher abusos no uso dos mecanismos públicos. De representantes do MCTI, porém, o que se espera é uma postura de dar impulso ao avanço da legislação, promovendo ao máximo suas possibilidades.

ENTENDA O CASO
O que está na Lei do Bem Como o MCTI interpreta
Capítulo III - Dos Incentivos à Inovação Tecnológica

§ 1o Considera-se inovação tecnológica a concepção de novo produto ou processo de fabricação, bem como a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado.

Atividades não contempladas:
Atividades de Engenharia e Capacitação de Fornecedores

I - desenvolvimento de engenharia: concepção de novo produto ou processo de fabricação, e a agregação de novas funcionalidades ou características a produto ou processo que implique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade, resultando maior competitividade no mercado;

Capítulo III - Dos Incentivos à Inovação Tecnológica

Art. 17. VI § 2o O disposto no inciso I do caput deste artigo aplica-se também aos dispêndios com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica contratados no País com universidade, instituição de pesquisa ou inventor independente.

Art. 19-A.  A pessoa jurídica poderá excluir do lucro líquido, para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), os dispêndios efetivados em projeto de pesquisa científica e tecnológica e de inovação tecnológica a ser executado por Instituição Científica e Tecnológica (ICT)

Objetivo da Lei do Bem

Estimular as empresas a desenvolverem internamente atividades de pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica quer na concepção de novos produtos e/ou na agregação de novas funcionalidades ou características ao produto ou processo.

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ARTIGO

Não há inovação sem liderança

Bruno Rondani, Wenovate

Diversas são as formas de definir inovação. Todas elas, porém, estão ligadas à mudança - especialmente ao resultado de ações deliberadas de mudança. As empresas são estruturadas para serem constantes, terem processos bem definidos e manterem a chamada máquina de desempenho em pleno funcionamento: eficiente, confiável, padronizada. Acontece que, para que sobrevivam ao longo do tempo, as empresas precisam também mudar.

Parece um contrassenso? De fato, a relação entre produtividade e inovação se edifica sobre uma tensão permanente. Forças diferentes de uma empresa a impulsionam tanto para a otimização dos processos já estabelecidos quanto para a revisão de suas atividades. Nesse cabo de guerra, a resistência da máquina de desempenho tende a ser maior. Para que as mudanças aconteçam, é preciso que surjam líderes capazes de mobilizar e redirecionar a inovação.

Foi justamente na percepção do paradoxo em que vivem que as empresas criaram cargos de gestão da inovação. Atribui-se a esses profissionais a missão de garantir que os novos fluxos de ideias e as iniciativas para mudanças sobrevivam até a fase de implantação. Eles precisam sustentar um processo apesar das perdas imediatas certas que causa aos demais gestores enquanto propõe ganhos futuros incertos. Espera-se que eles sejam líderes nesse processo.

Engana-se aquele que acredita, porém, que a liderança para a inovação está restrita a cargos. Em um mundo cada vez mais em rede, líderes capazes de mobilizar para a inovação podem emergir de qualquer lugar: seja da alta direção ou do chão de fábrica, seja da área de P&D ou do marketing, seja um colaborador ou um parceiro externo. Esses líderes podem estar em startups, entre os clientes, entre consultores ou em qualquer outra instância com a qual a organização se relaciona.

As corporações existem em meio a um contexto de mudanças rápidas e radicais no qual a tomada de decisões não é um processo simples. Liderar para a inovação nesse meio, portanto, não é um problema técnico, mas um desafio adaptativo. O problema técnico é aquele em que se pressupõe que existe um repertório pré-concebido para agir. O desafio adaptativo, por sua vez, é aquele no qual se entende que as respostas precisam ser cocriadas.

Os estudos sobre liderança mostram que essa contraposição de cenários está intimamente ligada à diferenciação entre liderança e autoridade. Quando se entende a inovação ligada à autoridade, a postura que se espera é de alguém que toma a frente dos problemas no sentido de eliminar o caos e as tensões, esconder problemas e prover respostas práticas e objetivas. Nesse entendimento, busca-se alterar o mínimo possível a partir de soluções técnicas para os problemas que surgem e com o mínimo impacto.

Por outro lado, o líder, entendido como integrante de uma equipe - e não alguém que está acima dela -, tem nos desafios o seu material de trabalho. Ele orquestra e compartilha as dificuldades com os parceiros e, na busca por respostas, orienta a proposição de perguntas. Entende que os desafios são difíceis de identificar. Portanto, suas soluções precisam ser construídas e podem demandar mudanças profundas. É por isso que o líder, no contexto da inovação, tem um caráter fortemente empreendedor, sendo ele o dono da corporação ou não.

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NOTÍCIAS WENOVATE E PARCEIROS

Wenovate realiza curso de liderança estratégica

O Wenovate, em parceria com o CLA, realiza de 24 a 26 de setembro, o curso Liderança Estratégica. Voltado para empreendedores e executivos dos setores público e privado, o curso aborda o viés estratégico da liderança a partir de abordagem que recorre ao modelo conceitual da Universidade de Harvard. O curso será ministrado pelo diretor da organização, Stefan Reich.
Informações: atendimento@wenovate.org.

 

Inscrições abertas para Programa Gestão Estratégica de Inovação da FDC

A Fundação Dom Cabral realiza de 16 a 20 de setembro o Programa Gestão Estratégica de Inovação. O objetivo é oferecer treinamento para empresas integrarem aspectos chave para incorporação da inovação por meio de apectos como estratégia, cultura e método. As inscrições podem ser realizadas pelo site da organização: www.fdc.org.br. Associados do Wenovate tem 10% de desconto.

 

Edital Senai-Sesi de Inovação 2013 tem R$ 30,5 milhões para projetos inovadores

Estão abertas as inscrições para o Edital Senai-Sesi de Inovação 2013. Somados, os recursos para a cobertura de projetos inovadores chegam a R$ 30,5 milhões, sendo R$ 20 milhões para projetos Senai, R$ 7,5 milhões para projetos Sesi e R$ 3 milhões em bolsas de pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Industrial. O Edital tem como objetivo incentivar a inovação tecnológica e a inovação em saúde, segurança, qualidade de vida, educação e cultura, por meio de produtos, processos e serviços em empresas do setor industrial de micro, pequeno, médio e grande portes. As inscrições vão até 30 de setembro : www.editaldeinovacao.com.br.

 

Itajubá realiza evento de inovação aberta

De 4 a 6 de novembro, a Universidade Federal de Itajubá realiza a 1ª Feira de Inovação Aberta de Itajubá. O evento é gratuito, mas as inscrições e a submissão de trabalhos devem ser realizadas com antecedência. Informações: www.b2mlportal.com.br/inovacao.

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CLIPPING

Colaboração na definição de desafios é primeiro passo em open innovations - Amcham

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SAVE THE DATE




25 a 27 de Novembro - WTC São Paulo

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