Boletim Inovação Aberta
Edição 27 - Agosto de 2013
 

O Boletim Inovação Aberta é uma iniciativa do Wenovate - Open Innovation Center. Nesta publicação, pessoas envolvidas com a prática da inovação aberta no País são entrevistadas com o objetivo de registrar casos, discutir conceitos e propiciar oportunidades. O boletim também oferece informações sobre os principais cursos, eventos, artigos e lançamentos relacionados à inovação aberta.

UMA PARA TRÊS

Não existe insucesso em inovação?

Após 26 edições tratando dos mais diversos assuntos relacionados à inovação na seção “uma para três”, decidimos perguntar aos gestores e organizações sobre seus casos de insucesso.

Sempre tivemos uma facilidade muito grande de obter contribuições de especialistas, autoridades nacionais e internacionais em inovação, nos mais variados temas.    

Este mês, lançamos a seguinte pergunta composta:

Qual iniciativa sua ou de sua organização teve maior sucesso em inovação? Que ação deu menos resultado neste sentido? A que você atribui o sucesso e o insucesso?

De todas as respostas recebidas, nenhuma mencionou o insucesso.

Ora, sabemos que as instituições que entrevistamos tiveram muito sucesso e que esse sucesso é fruto do aprendizado de iniciativas anteriores que não deram tão certo. A prática da inovação exige tolerância a esses insucessos e acreditamos que estar disposto a compartilhá-los para fim de aprendizado é extremamente importante para fortalecer uma cultura inovadora.

Ao invés de publicar aqui as respostas contendo apenas o sucesso de cada um (e desta forma esconder que fracassamos em nosso objetivo), decidimos compartilhar com nosso leitores nosso fracasso em não conseguir fechar a seção “uma para três” sobre casos de insucesso e lançar o mesmo desafio para a próxima edição.

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ENTREVISTA

Sobre Cultura Inventiva

 

Aly Khalifa, Gamil Design

Wenovate: Como você definiria Cultura Inventiva?

Aly Khalifa: A Cultura Inventiva se dedica a estabelecer um ambiente em que pessoas criativas são bem sucedidas e podem criar novos trabalhos. Tipicamente, ela permite experimentação, colaboração, pensamento inclusivo e determinação.

Wenovate: Como e quando ela surgiu para você?

Aly Khalifa: Como consultores criativos, funcionamos em ciclos de melhoramentos: como montar a estrutura para a equipe, como conduzir reuniões, como se comunicar com clientes, como organizar seu ambiente interno e também como contribuir com a comunidade. O que percebemos é que não havia uma única solução mágica. Estávamos reagindo a uma necessidade constante de manter uma cultura onde criatividade, colaboração e polinização-cruzada são cruciais.

Wenovate: Para você, o que é um ambiente criativo?

Aly Khalifa: Ambientes criativos têm que ter um equilíbrio sutil. Muito controle mata a criatividade, mas escolhas demais também. Um dos nossos métodos criativos é começar um design baseado no rascunho de outra pessoa. É muito mais fácil para as pessoas começarem a trabalhar com algumas linhas aleatórias do que em um papel em branco. Descobrimos que ambientes criativos precisam ter esse mesmo tipo de abordagem.

Wenovate: Há muitas empresas que adotam esse tipo de cultura. Como você acha que elas estão indo?

Aly Khalifa: Nossa empresa de consultoria, Gamil Design, fornece ideias criativas para muitos clientes internacionais. É nossa missão ver as coisas de forma diferente e é isso que guia nossa busca pela cultura inventiva. Formamos a Designbox para promover espaços de trabalho, salas de reunião e uma galeria mensal programada para abrir a possibilidade de colaboração e expressão com outros profissionais criativos. Rapidamente percebemos que o staff entrou em contato com outras pessoas criativas fora da estrutura, o que também trouxe benefícios para estabelecer o sentimento de propósito comum e finalmente levou ao estabelecimento dessa cultura.

Tiramos algumas lições da Designbox e decidimos aplicar em nossa cidade de Raleigh com um festival chamado SPARKcon. Desta vez usamos uma metodologia open source para abrir a participação para além das profissões com as quais estávamos mais familiarizados. Com uma missão e praticamente nenhum dinheiro, ficamos felizes em ter 250 pensadores pioneiros dando o tom da SPARKcon em seu primeiro ano. Oito anos depois, a SPARKcon é vista como um evento âncora na cidade e mostra o talento de mais de 1700 indivíduos da nossa cidade, em áreas como moda, música, grafite e performance circense. Agora ela traz mais de 35 mil pessoas. Essa experiência nos deu coragem para estar cada vez mais abertos para novos modelos de negócios e nos levou a muitos novos insights e oportunidades, como crowdfunding e outros tipos de colaboração.

Wenovate: Como criatividade, inovação e cultura inventiva estão relacionadas no seu trabalho?

Aly Khalifa: Vemos a cultura inventiva como um tecido conjuntivo que junta pessoas, habilidades, criatividade e energia, levando a ideias inovadoras. É difícil identificar imediatamente, mas é uma dessas coisas que “você sabe quando você sente”. Para construir essa cultura, você precisa exercitar a “liderança transformadora”, que é bem diferente da típica estrutura corporativa top-down. Na verdade, liderança transformadora é uma característica comum da maioria dos empreendedores. Então, se você quer se tornar um empreendedor, construa suas habilidades com trabalho voluntário.

Com a metodologia open source e voluntária da SPARKcon, aprendemos isso continuamente. Ainda que estejamos em processo, estamos conectando uma rede poderosa de pessoas criativas que apoiam umas às outras e isso explodiu em possibilidades ainda mais interessantes. Por exemplo, nosso último trabalho com a Lyf Shoes coloca nossa comunidade não apenas para desenhar os uppers, mas também para participar da fabricação em si.

Tendemos a focar em novos produtos e modelos de negócios, mas, no fim das contas, essas coisas só existem para nos ajudar a construir a cultura. Então, vamos construir uma que seja inspiradora.

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SUÍTE

Inovação aberta, inovação social e Desafio Brasil

Marco Túlio Pires, Assessor de Inovação e Tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo

Marco Túlio Pires, Assessor de Inovação e Tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo.

Inovação, incluindo a aberta, sempre foi um tema presente na agenda da Secretaria, que há algum tempo já buscava ferramentas e soluções relacionadas. A participação no Desafio Brasil veio ao encontro dessa proposta, que era a de envolver os funcionários da casa e outros pares da sociedade em um ambiente de criação para solução de problemas.

A contratação de uma plataforma de inovação colaborativa também estava prevista, mas esses processos levam algum tempo em função das etapas que precisam ser cumpridas, como licitação, análises, pregão etc. A oportunidade de fazer parte do Desafio foi o atalho que precisávamos para o experimento, para entender como essa cultura da inovação poderia ser disseminada, já que era algo completamente novo para um órgão público.

Cases como Natura, Intel e FGV, instituições que têm notório saber, serviram como exemplo para pensar em como adaptar isso dentro da gestão pública, já que não basta simplesmente adotar o modelo que funciona no setor privado.

Apesar de termos chegado já no fim da primeira etapa do Desafio, conseguimos envolver nossas 26 subsecretarias. Dentro das 10 prioridades da secretaria, selecionamos a inclusão produtiva, que trata das formas de capacitar e colocar pessoas, que estão em condição de extrema pobreza ou de risco, não no mercado de trabalho, mas no mundo do trabalho.

Buscamos fazer uma inclusão social efetiva, criando cooperativas, centros de trabalho e oportunidades de essas pessoas conseguirem seu sustento. Chegamos com essa missão na secretaria, mas queríamos ouvir o input da sociedade e também dos funcionários da casa em relação a ideias que pudessem ser executadas em torno da inclusão produtiva.

Já recebemos mais de 70 propostas em cerca de duas semanas após o lançamento do desafio. As ideias serão reunidas e trabalhadas com especialistas da casa, de modo que possamos entender se elas pertencem ao nosso escopo. Se pertencerem, irão para uma fase de formalização de projeto, onde participaremos aqueles que estavam no processo de criação. Depois colocaremos os projetos em funcionamento e premiaremos os participantes.

Isso é inovação social, proporcionar às pessoas, meios de criar ideias que tenham uma capilaridade na sociedade como um todo, não só ideias que parecem boas no papel, mas que podem encontrar terreno fértil para promover o desenvolvimento social.

Corroboramos com o conceito de que a inovação ocorre quando se consegue unir produção em massa com utilidade, quando se encontra uma função para uma ideia. Inovação está em como se faz uma ideia sair de um laboratório de pesquisa e encontrar mercado.

A inovação social segue nessa linha, com ideias que, de fato, possam mudar a vida de pessoas em situação de dificuldade. É isso que estamos buscando com esse desafio, criar uma cultura para que outros desafios possam ser lançados.

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FOMENTO

Explorando novas modalidades de fomento à inovação

Rafael Levy, Diretor da Allagi

As linhas de fomento e incentivo à inovação mais procuradas pelas empresas no Brasil têm sido aquelas que trazem benefícios diretos para as atividades já realizadas pelas organizações, tais como a Subvenção Econômica e os Incentivos Fiscais da Lei do Bem.

Entendo que o principal motivo para este fato é que este tipo de programa acaba sendo inicialmente mais simples de aplicar e de entender os benefícios, pois os mesmos se aplicam aos gastos que a empresa já tem (equipe própria, projetos próprios) e se referem a benefícios financeiros não reembolsáveis.

No entanto, o sistema nacional de inovação tem vários outros programas interessantes e, muitas vezes, menos "concorridos", que não são explorados pelas empresas e costuma ser negligenciados pelos gestores de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). São eles:

A) Financiamentos

Primeiramente, temos os financiamentos a atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação com taxas de juros subsidiadas. Muitas empresas ignoram estas linhas por se tratarem de empréstimo e não representarem um aumento direto do orçamento de P&D.

Entretanto, considerando que as taxas de juros destes programas são de até 3,5% a.a., ou seja, são abaixo da inflação e representam juros reais negativos, esses empréstimos podem representar um grande ganho financeiro para as empresas. Mesmo que a empresa tenha caixa para continuar investindo em suas atividades de inovação, ela pode pegar o empréstimo e usar o caixa para outra finalidade, ou mesmo deixá-lo investido, pois o rendimento de qualquer fundo, até mesmo poupança ou renda fixa, é melhor que a taxa de juros do financiamento.

Exemplificando, caso uma empresa pegue um financiamento de R$ 100 milhões a 3,5% a.a. e invista os recursos próprios em CDBs (vamos considerar um rendimento líquido de 5,5% a.a.), isso significa que ela está ganhando R$ 2 milhões por ano com a diferença de juros. Isso já seria uma subvenção indireta à empresa. Na prática, porém, as empresas não pegam dinheiro para reinvestir no mercado financeiro, mas passam a fazer investimentos para os quais não teriam caixa ou trocam a dívida mais cara por esta dívida mais barata.

Neste caso, se uma empresa trabalhar com uma linha de empréstimos com taxa de 15% a.a. e substituir a parcela relacionada à P,D&I por uma linha de inovação, pelo mesmo raciocínio, ela economizará R$ 11,5 milhões por ano com a economia em pagamento de juros. Esta "subvenção indireta" poucas empresas percebem.

Os interessados nessas linhas devem procurar os programas BNDES Inovação Tecnológica, FINEP Inova Brasil (hoje também unificados nas chamadas do programa Inova Empresa), além de linhas estaduais como, por exemplo, o Pró-Inovação do BDMG com FAPEMIG em Minas Gerais.

Muitas vezes estes financiamentos são ignorados, pois a principal interessada em recursos para P&D é a própria área de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa, enquanto a solicitação de financiamentos costuma ser realizada pelo departamento financeiro. Sem uma interação entre estas duas áreas, o pedido fica realmente inviável.
No entanto, para o gestor de P&D, uma das principais vantagens de um financiamento deste tipo é a garantia e o comprometimento da empresa com as atividades de P&D durante o prazo de financiamento.

B) Parcerias com universidades

Normalmente as empresas querem buscar recursos de fomento para os projetos imediatos, para desenvolvimento com suas equipes internas. Por este motivo, muitas vezes ignoram ou desconhecem as linhas de fomento voltadas a parcerias entre empresas e universidades.

Estas linhas são voltadas à execução de projetos de P&D em universidades ou institutos de pesquisa privados sem fins lucrativos, porém apoiados e co-financiados por empresas privadas que tenham interesse em utilizar e/ou comercializar a tecnologia desenvolvida. Os recursos para as universidades são não-reembolsáveis e apesar de exigirem uma contrapartida da empresa, a mesma pode ser de apenas 10% do total do projeto (como no caso do FUNTEC).

Quando uma empresa tem projetos de mais longo prazo, que tenham necessidade de alto conteúdo científico e que envolvam competências ainda não dominadas pela equipe interna, este tipo de parceria pode ser interessante, pois permite à empresa acessar novos conhecimentos e outros recursos além dos próprios, possibilitando saltos tecnológicos maiores em seus produtos e/ou serviços.

Uma das grandes dificuldades para viabilizar este tipo de parceria é a necessidade das negociações e discussões com a universidade sobre propriedade intelectual, sigilo, publicações de resultados científicos, cronograma e motivadores da universidade diferentes dos da empresa. Os convênios com as universidades costumam demorar a serem assinados principalmente em função da discussão sobre o compartilhamento de propriedade intelectual e pagamento de royalties. O assunto é complexo e merece um artigo específico sobre este tema.

Os principais programas desta linha são o FUNTEC do BNDES, que funciona com fluxo contínuo, e as chamadas dos Fundos Setoriais da FINEP, que dependem do lançamento de editais específicos. Além dessas linhas, existem programas semelhantes nas Fundações de Amparo à Pesquisa de alguns estados.

C) Recursos Estaduais

As Fundações de Amparo à Pesquisa de certos estados brasileiros têm programas voltados especialmente à pesquisa nas empresas (ou em parceria com empresas). 

Alguns exemplos são os programas PIPE e PITE da FAPESP (em São Paulo) que oferecem recursos não reembolsáveis para projetos de pesquisa ligados a empresas. O PIPE é voltado a pequenas empresas que desejam desenvolver um projeto de pesquisa interno. Já o PITE é voltado a projetos de pesquisa nas universidades em parceria com médias ou grandes empresas.

É recomendável consultar os programas da FAP de seu estado. Boa parte das empresas busca apenas as fontes federais por meio da FINEP e BNDES, mas muitas vezes o recurso pode estar mais próximo do que se imagina.

Além das FAPs, há recursos provenientes da descentralização de fomento e financiamento da FINEP. O TECNOVA é a Subvenção Econômica para pequenas e médias empresas, operada por agentes financeiros nos estados. A FAPESC, de Santa Catarina, já lançou o primeiro edital. Cada estado tem seu agente intermediador do programa. 

Já o programa Inovacred é uma linha de financiamento da FINEP, descentralizado e operado por instituições credenciadas em cada estado (veja a lista em: http://download.finep.gov.br/programas/inovacred/ParceirosInovacred.pdf).

D) Bolsas

Muitas vezes a grande necessidade de um projeto de P&D na empresa é a aquisição de novos conhecimentos por sua equipe de pesquisadores. Este tipo de atividade pode ser paga por meio de linhas que concedem bolsas para projetos de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico, que podem também ser aproveitadas pelas empresas na formação de sua equipe própria ou para desenvolvimento de possíveis futuros colaboradores.

Alguns programas concedem bolsas que são especialmente voltadas a projetos envolvendo empresas, como as bolsas RHAE do CNPq, voltadas a pequenas e médias empresas. Além disso, hoje existem várias oportunidades como o programa “Ciências sem Fronteiras”, que financia bolsas de formação e pesquisa no exterior.

E) Programas regulatórios

Além dos tradicionais programas de fomento e financiamento à inovação, que distribuem seus recursos por meio de agências centralizadas, seja do governo federal (FINEP, BNDES, CNPq) ou estadual (FAPs), existem recursos para P,D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) distribuídos por meio de exigências regulatórias ou incentivos fiscais em alguns setores específicos, que podem ser utilizados por empresas que desejam desenvolver projetos de P,D&I.

É importante mencionar o programa de P&D da ANEEL, que exige que concessionárias de geração, transmissão ou distribuição de Energia Elétrica invistam parte de seu faturamento em projetos de P&D com outras instituições (que podem ser tanto universidades como outras empresas). Estas empresas concessionárias (como CEMIG, Copel, Light, CPFL, AES etc.) têm orçamento dedicado a P&D e estão sempre em busca de projetos interessantes para investir.

Como estes pagamentos são equivalentes a recursos "não-reembolsáveis", este programa representa uma grande oportunidade para empresas que têm tecnologias aplicáveis ao setor elétrico e que desejam realizar projetos de P&D em parceria com estas concessionárias.

Existem ainda programas como o INOVAR AUTO (no setor automotivo), P&D ANP (do setor de óleo e gás) e Lei de Informática (para fabricantes de equipamentos eletrônicos) que também exigem que as respectivas empresas invistam parte do faturamento em P&D.

No entanto, diferentemente do P&D ANEEL, que demanda contratação de terceiros (não fazendo distinção entre empresas ou universidades), as demais linhas ou exigem que parte do gasto de P&D seja com universidades ou institutos de pesquisa, ou permitem que o gasto seja realizado com a equipe interna de P&D das empresas contempladas.

E embora empresas terceiras interessadas em desenvolver projetos de P&D para as empresas contempladas compitam pelo mesmo orçamento das equipes internas, é importante saber que as mesmas têm um orçamento relevante dedicado a P&D e que estes também são recursos potencialmente acessíveis e normalmente negligenciados.

A conclusão é de que embora as empresas estejam inicialmente interessadas apenas em Subvenções e Incentivos Fiscais, existem muitas outras oportunidades no Brasil que podem oferecer benefícios iguais ou maiores do que estes mecanismos. Basta saber procurar e ter boa vontade de explorar modelos alternativos de parceria.

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ARTIGO

Inovação Aberta e o conceito de Redes Distribuídas

Bruno Rondani

Há cerca de 3 anos, Anderson Rossi, professor da Fundação Dom Cabral, me perguntou durante um painel sobre inovação aberta, qual a relação do tema com as chamadas “redes de inovação”.

Dois meses atrás, após termos focado nas últimas duas edições do Open Innovation Seminar o tema "Crescimento Sustentável apoiado em Redes de Inovação", um empresário muito envolvido com o tema da inovação me perguntou: mas alguma "rede de inovação" de fato existe e, se existe, “funciona”?

Não teria dificuldade em responder essas duas perguntas, inclusive com exemplos, não fossem as recentes conversas que mantive com Salvatore Iaconese e Augusto de Franco. Ao explicar-lhes o conceito que estávamos trabalhando nos recentes programas do Wenovate (open innovation, challenge-driven innovation, triple helix) ambos me responderam de forma muito assertiva: "mas isso não é rede".

Eles me explicaram o conceito de redes distribuídas onde a livre-interação peer-to-peer é o atributo fundamental e como a moderação e a centralização das iniciativas chamadas de open innovation não constituem redes distribuídas e apenas reforçam o velho paradigma da inovação vertical e linear. Ao tratar do conceito de redes aplicado a empresas, Augusto de Franco enfatiza que as empresas criaram estruturas hierárquicas e fechadas que bloqueiam o livre fluxo de ideias e interações que fazem com que elas percam a capacidade de inovar.

Respondi argumentando que o movimento de abertura do processo de inovação das empresas era condição necessária para a constituição de redes distribuídas de inovação. Eles insistiam em reforçar que a cocriação a partir da livre-interação é o que estimula a criatividade e permite a geração espontânea de ideias e não era isso que as empresas estavam fazendo ao adotar práticas de inovação aberta.

A descrição que faziam, apesar de muito interessante, ressoava na minha cabeça: "mas isso não é inovação". Ideação e criatividade são parte do processo, inovação exige ativos complementares como a alocação de recursos para seu desenvolvimento e disseminação que um ambiente de cocriação e uma rede distribuída provavelmente não conseguirão suprir.

Em uma economia capitalista, quem detém os recursos e as posições de mercado, em geral fundos de investimentos e grandes corporações são os tomadores de decisão e para decidir a alocação desses recursos eles precisam de projetos de inovação financiáveis e não apenas de ideias. Enquanto o crowdfunding engatinhasse e representasse parcela ínfima dos investimentos de inovação, não haveria como contar com as redes distribuídas como o novo locus da inovação.

Enfim, para sair do debate teórico e testar as ideias na prática, resolvemos fazer algumas experimentações. Nunca fui simpático à prática explorada por empresas que publicam desafios dos chamados seekers para uma comunidade pré-cadastrada de solvers. Tampouco eu era muito simpático às competições de planos de negócios como estímulo ao empreendedorismo.

O primeiro para mim traz um problema da estratégia empresarial. Se a solução inovadora está disponível no mercado e é possível acessá-la a partir de chamadas públicas (ou semi-públicas) ela deixa de ser um recurso estratégico, pois é disponível também para seu concorrente. Não me surpreendeu ouvir dos principais praticantes dessa modalidade de open innovation que, apesar de muito interessantes, elas só produziram inovações incrementais.

No segundo caso, como bom aluno de Saras Sarasvathy, não me entra na cabeça que, ao simular o processo real de investimento de fundos de venture capital em competições que excluem os participantes na mesma proporção que nos casos reais, estejamos de fato ensinando muito sobre empreendedorismo aos empreendedores. Ao fazer isso, estamos na verdade condicionando empreendedores à linguagem e estruturação de projetos nos moldes esperados pelos gestores de fundo, dando reconhecimento àqueles que se apresentam melhor a essa indústria.

Com essas indagações em mente, assumi a coordenação da 8ª edição do Desafio Brasil, competição de empreendedorismo de alto impacto, promovida pela Fundação Getúlio Vargas. Fazendo-me valer de uma criativa “cláusula de inovação” em meu contrato com a FGV, que me obrigava a propor “inovações significativas” ao programa, propus incorporar ao Desafio Brasil o conceito de “rede de inovação”.

Para tanto, planejamos dois novos pilares no programa: (1) a criação de um ambiente de livre-interação entre os participantes – ambiente de cocriação e (2) a possibilidade de outros parceiros lançarem desafios de inovação aos empreendedores como forma de orientar os empreendimentos a questões de seu interesse – open innovation. Além disso, nós nos impusemos como objetivo aumentar o impacto da competição atraindo mais empreendedores e fazendo com que eles tivessem a oportunidade de aproveitar mais o processo de capacitação em cultura de venture capital, dando-lhes mais oportunidades de aprendizado antes de serem eliminados da competição.

A primeira medida adotada foi buscar uma plataforma de software que permitisse a interação entre os participantes e que gerisse os diversos fluxos propostos (cocriação, competição e desafios de inovação) de forma paralela e sinérgica. Definida a plataforma, criamos uma primeira chamada aos empreendedores para popularem o ambiente de cocriação com suas ideias ou submeterem suas propostas na competição.

Não oferecemos nenhum prêmio específico e não criamos nenhuma regra ou processo de interação para aqueles que optavam por publicar suas ideias via cocriação. Simplesmente liberamos a plataforma para cadastro espontâneo de empreendedores interessados em cocriar ideias com outros empreendedores. Para nossa surpresa, ao término do primeiro prazo estipulado de 45 dias, recebemos um número idêntico de ideias de startups para cocriação e propostas para a competição. Foram cerca de 380 startups cadastradas para a competição e 370 para a cocriação. Nesse momento o sistema atingiu mais de 1.500 empreendedores.
Ao término desse primeiro prazo, reforçamos para os participantes que ajudassem as 370 ideias publicadas para cocriação com comentários. Demos um prazo de outros 28 dias para essa livre interação e para que novas startups se cadastrassem na competição. Estimulamos que quem estivesse na competição lesse as ideias dos outros e fizesse comentários e quem estivesse no ambiente de cocriação amadurecesse sua ideia para participar da competição.

O resultado foi que atingimos 1.219 startups, sendo 917 startups cadastradas na competição e 550 publicadas para cocriação, ou seja, 302 optaram por se manter apenas no ambiente de cocriação. Em termos de interações foram 1.400 comentários divididos entre 344 ideias que chamaram a atenção dos demais empreendedores, fazendo com que 248 também resolvessem aderir à competição. Nesta etapa participavam do processo 3.400 pessoas.

Ao mesmo tempo, apresentamos esses resultados para empresas e outras instituições lançarem desafios de inovação em nossa rede. Esse movimento atraiu cinco desafios de inovação publicados por parceiros interessados na comunidade de empreendedores do Desafio Brasil. Os parceiros teriam 25 dias para atrair empreendedores a propor soluções para seus desafios. Na primeira semana de publicação dos desafios de inovação, os parceiros receberam ao todo 150 propostas, demonstrando que há também um grande interesse por parte dos empreendedores de interagir com essas organizações. Com os desafios de inovação abertos, o número de participantes continuou a aumentar, passando dos 4.000.

É difícil tirar alguma conclusão definitiva sobre essa experiência ainda incompleta, mas os números que atingimos (e não estamos avaliando qualidade ainda, mas sim o engajamento) mostram que mudando o processo de uma competição de plano de negócios e abrindo outras opções de fluxo de ideias como um ambiente de livre interação (cocriação) e desafios de inovação (open innovation/challenge driven), conseguimos mobilizar um número muito maior de participantes e gerar colaboração entre eles. Para efeito de comparação, na sétima edição do Desafio Brasil foram 364 startups qualificadas envolvendo um total de 1.543 empreendedores.

Continuo a acreditar que o locus de inovação é a empresa. E voltando a falar de empresas, acredito que a inovação pode sim ser potencializada a partir da livre interação (cocriação) entre colaboradores e comunidade externa, mas continuo a acreditar também na importância dos processos de inovação robustos, capazes de integrar livre geração de ideias, com avaliação, implementação e disseminação da inovação.

A livre interação tem um papel fundamental na formação de uma cultura criativa necessária para a inovação, ao passo que os processos de inovação têm um papel fundamental de permitir que ideias se transformem em projetos financiáveis para que os "detentores dos recursos", complementares à inovação, possam tomar a decisão de investimento.

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NOTÍCIAS WENOVATE E PARCEIROS

Um dos artigos mais lidos na Você R.H. é cria da casa

O artigo sobre Gestão do Conhecimento de André Saito, um dos sócios da Allagi Open Innovation Services, publicado no site da Você R.H. em 24.02.2012, tornou-se um dos mais lidos, segundo informações da Revista.
Se você não leu, clique aqui e leia o artigo na íntegra.

 

Primeiro Seminário Nacional de Incentivos à Inovação

São Paulo foi sede do 1º Seminário Nacional de Incentivo à Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento, realizado em 18 de julho. O painel “Mecanismos Públicos de financiamento à inovação” foi um dos temas abordados.
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Wenovate marca presença no Comitê Amcham de Inovação

A importância da colaboração na definição de desafios como primeiro passo para a inovação aberta foi um dos temas apresentados durante o Comitê de Inovação da Amcham, realizado em São Paulo, no início de julho.
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Crescimento Sustentável suportado pelas Redes de Inovação foi tema no Smart Sustainable Cities ITU

No dia 30 de julho, a cidade de São Paulo recebeu o ITU Workshop on Smart Sustainable Cities in Latin America. O painel “Sustainable growth supported by innovation networks” foi um dos destaques.
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